Economia
Osvaldo Gonçalves
Embora hoje o termo “alfaiataria” também seja utilizado para caracterizar as roupas industrializadas e tenham sido criados nomes mais chiques para as profissões, como estilista e figurinista, a arte desses profissionais, que talhavam e cosiam fatos e vestidos sob medida, muito fustigada pelo pronto-a-vestir, sobrevive. O Dia do Alfaiate e da Modista assinalou-se na quarta-feira
Fotografia: DR
Por mais que falem nos antigos armazéns onde se podia comprar os tecidos, de veludo, setim ou xita, lembram-nos mesmo os alfaiates e as modistas de outro tempo.Existem registos com mais de 30 mil anos de ferramentas, como agulhas feitas de osso, o que leva a considerar a alfaiataria como uma das mais antigas profissões do Mundo, cujos ensinamentos são passados de geração para geração.
Embora hoje o termo “alfaiataria” também seja utilizado para caracterizar as roupas industrializadas e tenham sido criados nomes mais chiques para as profissões, como estilista e figurinista, a arte desses profissionais, que talhavam e cosiam fatos e vestidos sob medida, embora muito fustigada pelo pronto-a-vestir, sobrevive.
Criar roupa à medida e produzi-la de forma artesanal, tarefa de alfaiates e modistas, era muito procurada na Era Antiga, quando, devido à pouca variação de modelos de vestimentas, a comunidade vestia-se de forma semelhante, pelo que, para se diferenciar do resto da população, a burguesia encomendava as suas roupas, que eram confeccionadas com tecidos nobres.
Embora não existam grandes diferenças entre alfaiates e costureiras, até ao século XVII apenas os primeiros podiam criar e confeccionar roupas, enquanto elas apenas podiam fazer pequenos ajustes.
Hoje ainda são muito referidas as diferenças entre o alfaiate e a costureira, sendo o primeiro apresentado como a pessoa “que faz roupas de homem e, por vezes, vestimentas femininas com talhe masculino” e a segunda como uma “mulher que costura amadorística ou profissionalmente roupas sociais”.
Embora o termo alfaiate seja neutro, é poucas vezes usado o termo “costureiro” e para a correspondente feminina criou-se a palavra “modista”, que, no início veio dignificar as mulheres, mas acabaram por cavar ainda mais o fosso entre os profissionais masculinos e femininos do corte e costura.
Mesmo com a
alta costura, oficializada em 1858, a arte continuou a ser dominada pelos homens, sobretudo, no tocante à concepção, escolha dos tecidos e acessórios e talhe das peças. Às mulheres eram reservadas outras tarefas, como coser as roupas.
Os alfaiates detinham importância em quase todos os sectores, incluindo a pecuária, já que, devido à grande credibilidade junto dos clientes, passavam entre eles a palavra sobre quais ovelhas tinham a melhor lã e orientavam assim oscriadores e os tecelões.
A moda, hoje uma grande indústria, capaz de influenciar as tendências da moda, conhece cada vez mais marcas com nomes femininos. Devido à sua presença junto às elites e ao carisma no seio das massas, aos costureiros masculinos sempre foram permitidos certas atitudes e comportamentos que seriam criticados noutras esferas.
Apesar do sucesso dos grandes criadores de moda, alfaiates e modistas mantêm-se presentes na concepção e confecção de trajes formais e peças de vestuário para ocasiões especiais, como casamentos.
Além disso, são chamados para alterar roupas do pronto-a-vestir, seja para fazer pequenos ajustes, seja para lhes dar personalidade própria, de modo a parecerem peças únicas.
Nesta época, em que a maioria das pessoas vivem em distanciamento social, devido à pandemia da Covid-19, com muita gente a optar pelo confinamento e o home office, vem-se assistindo ao ressurgimento dessas profissões que antes tendiam a ser esquecidas.
Usando da sua enorme criatividade, alfaiates e modistas põem mãos à obra para confeccionarem acessórios, como, por exemplo, máscaras faciais personalizadas, que a industrialização torna demasiado padronizadas.
Hoje, 23 de Julho, é o Dia do Alfaiate e da Modista, profissões que, por unirem a arte ao sacrifício, mantêm-se firmes entre nós.