As duas entidades estabeleceram um protocolo para preservar a técnica de tricotagem da camisola poveira, um passo «essencial para a manutenção da tradição do fabrico deste ícone da Póvoa de Varzim e da história etnográfica de Portugal», salienta o Modatex em comunicado.
Originalmente fabricada em lã branca de fio grosso, da região da Serra da Estrela, denominada “lã poveira”, a camisola tradicional é decorada a ponto de cruz, em preto ou vermelho, com motivos como o escudo nacional, a coroa real, siglas poveiras e objetos marítimos. «É uma peça que remonta à primeira metade do século XIX e que fazia parte do traje masculino de romaria e festa do pescador. Este era usado em momentos sociais mais solenes e considerado uma peça de distinção no seio da comunidade piscatória», refere o Centro de Formação Profissional da Indústria Têxtil, Vestuário, Confeção e Lanifícios.
Em março, a camisola poveira saltou para as páginas dos jornais devido à polémica com a marca Tory Burch, que colocou à venda exemplares semelhantes alegando inspiração mexicana. «Um erro», como assumiu a designer americana na sua conta de Twitter, onde garantiu estar a trabalhar com a autarquia da Póvoa de Varzim para apoiar os artesãos locais.
«Quando em 6 de janeiro de 2021 a Patripove iniciou todo o processo para ações de formação em tricotagem da camisola tradicional poveira no Modatex, estava longe de imaginar a polémica», assume Odete Costa, presidente da Patripove, no Facebook da organização sem fins lucrativos. «Mesmo com a inesperada polémica surgida meses depois (em finais de março/estilista americana Tory Burch), [as pessoas envolvidas neste projeto] foram capazes de manter a serenidade e não desviar as atenções do essencial: a defesa, consolidação e promoção da camisola tradicional poveira. Sem aproveitamentos e com estratégia – durante meses e em silêncio – foi preparado um curso de tricotagem ao mais alto nível», salienta.
Arranque em setembro
A primeira ação de formação começa a 20 de setembro, no Modatex Porto, e tem uma duração de 125 horas, até 31 de janeiro de 2022, com horário pós-laboral, das 19h às 22h, às segundas, quartas e sextas.
O curso, que é dirigido a ativos empregados ou desempregados com interesse nesta técnica artesanal de tricot e em bordado de ponto de cruz, com mais de 18 anos e 9.º ano de escolaridade, tem as inscrições abertas até 11 de setembro.
No mês de setembro deverão ainda ser realizados vários workshops para os formandos dos cursos do Modatex sobre esta técnica artesanal.
«A produção da camisola tradicional poveira obedece a uma técnica artesanal, que o Modatex pretende preservar e promover em diversas ações de formação, onde serão também aprofundados os conhecimentos históricos e técnicos que serão consolidados com o fabrico de uma camisola tradicional poveira por cada formando», resume o centro de formação.